3.3.04

“…este meu estado actual de alma tem uma causa. Em torno de mim está-se tudo afastando e desmoronando.
Não emprego estes dois verbos no sentido entristecedor. Quero apenas dizer que na gente com quem lido se estão dando, ou se vão dar, mudanças, acabares de períodos de vida, e que tudo isto – como a um velho que vê morrerem em seu redor os seus companheiros de infância, a sua morte parece próxima – me sugere não sei de que misteriosa maneira, que a minha deve, vai, mudar também.
Repare que eu não creio que esta mudança vá ser para pior; creio o contrário. Mas uma mudança, e para mim mudar, passar de ser uma coisa para ser outra, é uma morte parcial; morre qualquer coisa dentro de nós, e a tristeza do que morre e do que passa não pode deixar de nos roçar a alma.”

Bernardo Soares


Este era o texto indicado para a minha primeira publicação, encontrei-o à pouco mas continua a fazer sentido na minha vida e por isso aqui fica. Por vezes as coisas são assim mesmo; cedo demais, tarde demais, só se tem de aprofundar o usufruto possível no momento.
ccc
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