30.8.04

Suspension



I want to make images that have open, narrative qualities, enought to suggest ideas about human limits. I want there to be a combination of the past juxtaposed with the modern.

Edison's LIght



I use nature to symbolize the search, saving a tree, watering the earth. In this fabricated world, strange clouds of smog float by; there are holes in the sky. These mythic images mirror our world, where nature is domesticated, controlled, and destroyed.

Passage



Through my work I explore technology and a poetry of existence.

Reclaimation



These can be very heavy, overly didactic issues to convey in art, so I choose to portray them through a more theatrically absurd approach.

Robert ParkeHarrison
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27.8.04

Divagando

Escolho uma mesa afastada dos focos de luz que me incomodam, pego na revista (uma das mais recentes necessidades, para não lhe chamar vicio, tenho de estar sempre acompanhada de letras impressas) e sento-me. A lista é imensa quentes, gelados, exóticos, com gengibre que dá um calor ...



Venha o maravilhoso chá de groselha e flores de sabugueiro, bem gelado.
Banda sonora sempre essencial a um bom momento, Smiths, ouve-se:

Shyness is nice, and
Shyness can stop you
From doing all the things in life
You'd like to

So, if there's something you'd like to try
If there's something you'd like to try
ASK ME - I WON'T SAY "NO" - HOW COULD I ?


Folheio os acontecimentos, aponto no bloquinho de notas: petição para o não pagamento de taxas nas bibliotecas pelas requisições de livros e afins (devem de estar doidos!!!), Poemas da Sophia Mello Breyner na próxima edição, “Minha mãe” com Isabelle Huppert (quase a sair das salas de cinema e eu não vi, uma das minhas actrizes favoritas em mais um papel controverso)



Existem momentos assim em que o todo se harmoniza, na maior parte das vezes em alturas como esta em que tão pouco espero ou procuro. Olho para a mesa o guardanapo desfeito, aglomerado de papéis enrolados e com laços, sim é o meu vício, admito que sempre tenho um, não consigo estar com as mãos quietas (podia dar-me para pior, tirando a cara do empregado não tem consequências de maior por isso posso continuar viciada nos papelinhos). Na última página olho em volta e desperto para o que me rodeia, desencontro-me e regresso ao estado semi-acordado, agrada-me esta liberdade e simplicidade de saborear os pequenos rituais. Através deles encontro um pouco de sossego na ansiedade que me tem devorado.
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26.8.04

Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.


Miguel Torga


by Siegfried Burgstaller

O mais custoso é tomar a decisão daí em diante, longe da névoa da incerteza, com a morte das hipóteses, o caminhar ganha consistência . Uma certa serenidade invadiu o branco de amanhã, por certo não demorará muito na sua visita, à que usufruir desta sensação de possibilidade.
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23.8.04

(...) Só a tua ausência fica, agora já sem nenhuma espessura, nenhuma possibilidade de nela abrir um caminho, de nela sucumbir de desejo.

(...)

vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba.

(...)


Disse para mim que te teria amado. Pensava que já só me restava de ti uma recordação hesitante, mas não; enganava-me, havia ainda estas praias em volta dos olhos, onde beijar e deitar na areia ainda quente, e esse olhar centrado na morte.

(...)

O dia de hoje não amanheceu e não há o menos sopro no alto das florestas ou nos campos, nos vales. Não se sabe se é o verão ainda ou o fim do verão ou uma estação mentirosa, indecisa, horrível, sem nome.



Já não te amo como no primeiro dia. Já não te amo.



No entanto continuam a existir em volta dos teus olhos, sempre, estas imensidades que rodeiam o olhar e esta existência que te anima no sono.

Continua também esta exaltação que me vem por não saber o que fazer disto, deste conhecimento que tenho dos teus olhos, das imensidades que os teus olhos exploram, por não saber o que escrever sobre isso, o que dizer, e o que mostrar da sua insignificância original.

(...)



É assim que permaneces face a mim, na doçura, numa provocação constante, inocente, impenetrável.

E tu não sabes.»


Marguerite Duras, O Homem Atlântico
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17.8.04

Fazes-me falta!


By Joao Coutinho. Obrigado vidro azul.




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13.8.04

Busco-me nos cantos mais obscuros da alma, nos mais incoerentes e viscosos, caminho por túneis míseros e tortuosos de novo a asfixia, somente se ouve o latejar das veias aprisionadas, tenho de tocar nas paredes da pele a cada passo, luz intermitente que vai e vem iludindo a escuridão, grito por soltar criado pela corrosão da mente sã, sentir toda a dor a esvaziar-se pelos obstruídos canais ferrugentos…nesta viagem pela memória de quem fui, passo pelo sonhado aceno ao cicatrizado, envolta nesta cápsula irreal isolamento de todos vós, prevalece o instinto que me levará para lá do palpável onde SOU.


by Dubravko Grakalic

“…Não basta ter recordações. É preciso esquecê-las quando são muitas, e é preciso ter a grande paciência de que elas regressem. Pois só as próprias recordações ainda não são o que mais importa. Só quando se tornam sangue dentro de nós, olhar e gesto, quando deixam de ter nome e já não se distinguem de nós mesmos...” Rilke
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11.8.04



"A Periférica autocensurou-se. Amputou parte importante da anatomia do retratado na capa. Nada de extravagante. Um pénis em repouso. Um falo no seu estado mais habitual (maugrado fanfarronices machistas)."



Pintura de Ricardo Leite

Eu sinceramente gosto mais do nú integral, os editores apresentam as suas razões, não concordo nem discordo, não o fizeram em nome dos bons costumes, menos mal. Deram-me acesso ao trabalho completo deste jovem talentoso, Ricardo Leite, entre outros assuntos interessantes. Vale a pena desfolhar esta revista e ler o seu blog.



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10.8.04

Uma sessão especial do filme Para Onde o vento Sopra com a presença do realizador Tom Barman, o vocalista e compositor dos dEUS,no King, dia 11 de Agosto.



Para além das composições de Barman, o filme conta ainda com músicas de Herbie Hancock, Queens of the Stone Age, Charles Mingus, J.J. Cale, Yazzo e Magnus.
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9.8.04

" A sinceridade é uma virtude, a verdade um tormento "

Sem fotografia. Sem desenvolvimento. A crú,
o rodapé dos meus pensamentos.
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4.8.04



Semana da poesia erótica no Poetry Café.

Uma escrita deveras interessante, de uma profunda subjectividade. Mesmo num site sobre este tema encontro uma mistura de erotismo barato a puxar para o porno, alguns mais para o romantismo clássico, outros de acordo com a minha ideia de erotismo. Como este, pela mão da "minha" poetiza :



Modo de amar – I

Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura

usa-me as coxas
devasta-me o umbigo

abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros

e lentamente faz o que te digo:

Modo de amar – II

Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...

a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...

Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...

as pernas longas
firmadas no lençol...

e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...

(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...

os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)



Modo de amar – III

É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu

Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu

Modo de amar – IV

Encostada de costas
ao teu peito

em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado

ambos de pé
formando lentos gestos

as sombras brandas
tombadas no soalho

Modo de amar – V

Docemente amor
ainda docemente

o tacto é pouco
e curvo sob os lábios

e se um anel no corpo
é saliente
digamos que é da pedra
em que se rasga

Opala enorme
e morna
tão fremente

dália suposta
sob o calor da carne

lábios cedidos
de pétalas dormentes

Louca ametista
com odores de tarde

Avidamente amor
com desespero e calma

as mãos subindo
pela cintura dada
aos dedos puros
numa aridez de praia
que a curvam loucos até ao chão da sala

Ferozmente amor
com torpidez e raiva

as ancas descendo como cabras
tão estreitas e duras
que desarmam
a tepidez das minhas
que se abrem

E logo os ombros
descaem
e os cabelos

desfalecem as coxas que retomam
das tuas
o pecado
e o vencê-lo
em cada movimento em que se domam

Suavemente amor
agora velozmente

os rins suspensos
os pulsos
e as espáduas

o ventre erecto
enquanto vai crescendo
planta viva entre as minhas nádegas

Modo de amar – Vl

Inclina os ombros
e deixa
que as minhas mãos avancem
na branda madeira

Na densa madeixa do teu ventre

Deixa
que te entreabra as pernas
docemente

Modo de amar – VII

Secreto o nó na curva
do meu espasmo

E o cume mais claro
dos joelhos
que desdobrados jorram dos espelhos

ou dos teus ombros os meus:
flancos
na luz de maio




Modo de amar – VIII

Que macias as pernas
na penumbra

e as ancas
subidas
nos dedos que as desviam

Entreabro devagar
a fenda – o fundo
a febre
dos meus lábios

e a tua língua
Vagarosa:

toma – morde
lambe
essa humidade esguia

Modo de amar – IX

Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas

o ar estagnado
que se estende
no quarto

As pernas que se deitam
ao comprido
sob as pernas

E sobre as pernas vencem o gemido

Flor nascida no vagar do quarto

Modo de amar – X

A praia da memória
a sulcos feita
a partir da cintura:

a boca
os ombros

na tua mansa língua que caminha
a abrir-me devagar
a pouco e pouco

Globo onde a sede
se eterniza
Piscina onde o tempo se desmancha
a anca repousada
que inclinas
as pernas retezadas que levantas

E logo
são os dentes que limitam

mas logo
estão os labios que adormentam
no quente retomar de uma saliva
que me penetra em vácuo
até ao ventre

o vínculo do vento
a vastidão do tempo

o vício dos dedos
no cabelo

E o rigor dos corpos
que já esquece
na mais lenta maneira de vencê-los

Modo de amar – XI
((Teu) Baixo ventre)

Nunca adormece a boca no
teu peito

a minha boca no teu baixo
ventre
a beber devagar o que é
desfeito



(As pedras – As pernas)

São as pedras
meus seios
São as pernas

pele e brandura
no interior dos
lábios

rosa de leite
que sobe devagar
na doce pedra
do muco dos meus lábios

São as pedras
meus seios
São as pernas

Pêssegos nus corpo
descascados

Saliva acesa
que a língua vai cedendo

o gozo em cima...
na pedra dos meus
lábios

Jogo do corpo
a roçar o tempo
que já passado só se de memória,
a mão dolente
como quem masturba entre os joelhos...
uma longa história...

Estrada ocupada
onde se vislumbra
(joelhos desviados na almofada )

assim aberta o fim de que desfruta
o fruto do odor
o fundo todo
do corpo já fechado.

Modo de amar – XIV
(As rosas nos joelhos)

São grinaldas de rosas
à roda
dos joelhos

O âmbar dos teus dentes
nos sentidos

O templo da boca
no côncavo do espelho
onde o meu corpo espia
os teus gemidos

É o gomo depois...
e em seguida a polpa...

o penetrar do dedo...
O punho do punhal

que na carne enterras
docemente
como quem adormenta
o que é fatal

É a urze debaixo
e o fogo que acalenta
o peixe
que desliza no umbigo

piscina funda
na boca mais sedenta bordada a cuspo
na pele do umbigo

E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre

que vai vencendo
as rosas – os escolhos
à roda dos joelhos, docemente.



Modo de amar – XV
(A boca – A rosa)

Entreabre-se a boca
na saliva da rosa

no raso da fenda
na fissura das pernas

Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta

E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas

que aí se entre-curva
se afunda
se perde

se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas

Modos de Amar por Maria Teresa Horta

fotos by Jean Vallette, Pamela Creevey e Mona Kuhn.
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