O CoRPO
"Digo do corpo
o corpo:
e do meu corpo
digo no corpo
o sítio e os lugares
de feltro os seios
de lâminas os dentes
de seda as coxas
o dorso em seus vagares
Lazeres do corpo:
os ombros
as lisuras - o colo alto
a boca retomada
no fim das pernas
a porta da ternura
dentro dos lábios
o fim da madrugada
Digo do corpo
o corpo:
e do teu corpo
as ancas breves
ao gosto dos abraços
os olhos fundos
e as mãos ardentes
com que me prendes
em súbitos cansaços
Vício de um corpo:
o teu
com o seu veneno
que bebo e sugo
até ao mais amargo
ao mais cruel grau de esgotamento
e onde em silêncio
nado
em cada espasmo
Digo do corpo
o corpo:
o nosso corpo
Digo do corpo
o gozo
do que faço
Digo do corpo
o uso
dos meus dias
e a alegria
do corpo sem disfarce"
Mª Teresa Horta
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