6.3.04


O CoRPO

"Digo do corpo
o corpo:
e do meu corpo

digo no corpo
o sítio e os lugares

de feltro os seios
de lâminas os dentes
de seda as coxas
o dorso em seus vagares

Lazeres do corpo:
os ombros
as lisuras - o colo alto
a boca retomada

no fim das pernas
a porta da ternura
dentro dos lábios
o fim da madrugada

Digo do corpo
o corpo:
e do teu corpo

as ancas breves
ao gosto dos abraços
os olhos fundos
e as mãos ardentes
com que me prendes
em súbitos cansaços

Vício de um corpo:
o teu
com o seu veneno

que bebo e sugo
até ao mais amargo
ao mais cruel grau de esgotamento

e onde em silêncio
nado
em cada espasmo

Digo do corpo
o corpo:
o nosso corpo

Digo do corpo
o gozo
do que faço

Digo do corpo
o uso
dos meus dias

e a alegria
do corpo sem disfarce"

Mª Teresa Horta
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