30.3.04

VERDADE & MENTIRA


Há muito que quero escrever sobre esta questão,por mero acaso o dia das mentiras está aí( não gosto nada desta coisa do dia tal) não me quero perder em filosofias, psicologias, claro que na poesia não poderia deixar de me perder:

"Improvisido corrigido"

Se minto?quantas vezes!
Mas em palavras.Não
Nos meus olhos castanhos portugueses,
nestas linhas atávicas da mão...
Se minto?...Minto, pois!
Mas nas orais palavras que vos digo.
Não nas que entoo a sós comigo,
E em que enfim deixo de ser dois.
Não nas que entrego a música, miragens,
alegorias, fábulas, mentiras,
cadências, símbolos, imagens,
ecos de minha e mil milhões de liras.
Se minto?...Minto! É regra de viver.
Mas não quando, poeta, me desnudo,
E a mim me visto de inocência, e a tudo.
Venha quem saiba ver!
Venha quem saibe ler!

José Régio

Estas palavras transmitem muito do que penso. Fui procurar nas minhas vivências diárias, desde o mais ínfimo pormenor à mais óbvia situação, onde paira a verdade. Deixei essa mesma questão ao M.K. que me levou definitivamente a organizar as ideias sobre isto.
Mente-se por comodismo, por simpatia, por maldade, por hábito.
A mentira é uma recorrência constante, muito prática, o caminho mais percorrido. Compensadora? Deve ser, pois já está integrada no sistema de tal forma que este não funciona sem ela.
A verdade transparece no abrir da concha onde nos fechamos. Olha-se com grande admiração para quem é mais verdadeiro, quando deveria ser comum, um bem essencial a cada um. Mas não é...
A verdade e a mentira, vejo-as como o preto e branco, da junção nasce o cinzento.. A subjectividade das palavras que usamos, dos pensamentos que temos, dos olhares que transmitimos é tal que prevalece o cinzento.

Até o olhar deixou de ser o espelho da alma, admito sou uma descrente. “Procuro um país inocente...”
Onde paira a verdade? contínuo sem saber, provavelmente nunca chegarei a saber. Sei a verdade em que acredito e isso chega-me para me "saber".


A Implosão da Mentira ou o Episódio do Riocentro

"Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.
Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva."

leminski

Obrigado por me teres levado ao Leminski,. LL
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