21.4.04


by retorta

"vaso partido"

vaso partido
O meu coração era já só um vaso velho,
sem flores ou vida...
Um ser inanimado.
Partido com o tempo
e envelhecido com as partidas.
Gasto e rachado pelo passar dos dias,
sem mais raizes a crescer,
ou vida a esperar,
sem esperança,
nem futuro...
sem nada...
...só passado.
Galhos secos no pó revirado da terra seca,
barro em cacos cheio de vida morta,
pedra e folhas secas...
uma ruina...

Tu vieste...
como uma semente de nada,
fruto do acaso,
força da natureza,
como uma erva daninha, que pega e cresce,
contra a vontade de tudo e todos...
contra a própria vontade da terra morta que te acolheu...
Vingaste...
cresceste...
apoderaste-te lentamente de mim...
envolvendo a raiz do teu ser em todo o meu coração,
até que a terra que o enchia,
não se distinguia mais da raiz que lá puseste.
E cresceste triunfante
no escombro do meu outrora vaso partido,
tornaste-te a raiz que agora o segura
a flor que o embeleza...
a vida que ele tem..
e não há maneira de te mais arrancar,
sem o levar junto
partido...

João Natal

Este menino escreve mesmo bem e serve-nos, com muito carinho, um belo café no Poetry Café.
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