4.5.04


by Brando

Dor funda esta que me percorre, nó na garganta que se fez ao te sentir. Fui de encontro ao que me deixas-te, levaste-me até ao teu porto, é o meu presente final?
Abro-o lentamente e já o advinho pois bem sei o quanto me sabes. Rendida nas sintonias partilhadas, lágrimas nascidas com vento que me fez poisar na tua alma. Preenchem-se os espaços por ti docemente desbravados.
Chegou a hora, volto para junto do palco que me pertençe, que um dia abandonarei, ou talvez não, não importa.
Vejo a peça que de mim sái, serenamente assisto á vida que se foi. Ecoam os aplausos de surpresa, recebo-os de braços abertos. É assim a minha arte desprovida de razão, pela voz do coração.
Agora só vos quero a vós, queridas palavras, deixem o pano cair, quero tirar a maquilhagem, despir os trajes de gala. Fico sentada de frente ao espelho, o corpo nú, o rosto que se revela a cada passagem da luz intermitente. Sugo-lhe os promenores, procuro os traços do tempo vivido, volta com o bater das ondas..." olhos abertos?olhos fechados?"
Verdades minhas que me fazem caminhar de encontro ao palpitar, vermelho que desliza quente pelos traços cinzentos, neste presente que me leva a acreditar.

ccc
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