29.6.04


Arno Rafael Minkkinen

De oho no meu umbigo, vejo-me repartida, uma só vida não me chegará. Sinto o expoente desta sofreguidão em que vivo e relembro as palavras do meu desassossego:

"Sou curioso de todos, ávido de tudo, voraz da ideia de todas. Pesa-me como a
perda de a noção que tudo não pode ser visto, nem tudo lido, nem tudo
pensado....
Mas não vejo atentamente, nem leio com importância, nem penso com
prosseguimento. Em tudo sou um diletante intenso e fruste.
A minha alma é fraca de mais para ter sequer a força do seu próprio
entusiasmo. Sou feito de ruínas do inacabado e é uma paisagem de
desistências a que definiria o meu ser.
Divago se me concentro; tudo em mim é decorativo e incerto, como um
espectáculo na bruma.
Esta tendência carnal para converter todo o pensamento em expressão, ou
antes, pensar como toda a expressão do pensamento; de ver toda a emoção em
cor e forma, e até toda negação em ritmo,

Escrevo com uma grande intensidade de expressão que sinto nem sei o que
é. Sou metade sonâmbulo e a outra parte nada."

Bernardo Soares
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