27.6.04

Diário de Praia

Ergue-se em vento, sol e maresia,
o imperfeito caule da loucura
na pura exactidão deste silêncio.

De quanta liquidez e espanto somos feitos!
A dor, quando menor, não lembra o que passou,
nem que desvios fez dos ventos imperfeitos...

Teu medo foi a flor que o meu amor quebrou.

Pior que o esquecimento era a suspeita
de que o inverno em mim amarelecera
toda a razão de ser da primavera.

Do meu amor perfeito, flor ausente,
não lembro o rosto nem a voz:
lembro a fadiga sorridente
que havia, ao fim, em cada um de nós.

Nesta melancolia verdadeira
a súbita pancada do outono,
pequena embora fosse, foi tamanha
que teve quase o gosto duma posse.

A concentrada noite se manteve
intacta - embora nós a atravessássemos
cpm passos desesperados e doridos.

À flor de um horizonte, num sorriso
ou na sombra de remos sobre o mar,
procurando-me, encontro o que preciso:
obscuros motivos de sonhar.


David Mourão Ferreira


autor Agnieszka Motyka

Desfocada me encontro,
por entre sonhos desfeitos
e realidades inventadas.
Acompanham-me as palavras de outréns
neste trajecto sem chão,
recorro ao infinito que me cobre,
coexistência terra/ar.

Incoerências nos Eus
a que pertenço,
Incontornáveis certezas
em que não creio,
unicamente fiel
ao volátil sentir.

ccc
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