3.7.04

A escritora morreu ontem aos 84 anos, deixando uma herança literária essencial para Portugal. público


«A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza»
17/12/97

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar

Sophia de Mello Breyner Andersen. (1999).


David H. Gibson

Estará sempre presente nos sentimentos partilhados ao longo da sua vasta obra, especialmente na sintonia do amor pelo mar. Afasto o pensamento da perda com palavras do seu filho Miguel: nada do que é verdadeiramente importante se perde apenas a ilusão de que pode durar para sempre. Aqui está a sua vida pela sua mão:

Poema

"A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada"


"Este é amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida"


e mais este deixado pela Sibyla
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