27.10.04



Deixa ficar a flor,
A morte na gaveta,
O tempo no degrau.

Conheces o degrau:
O sétimo degrau
Depois do patamar;
O que range ao passares;
O que foi esconderijo
Do maço de cigarros
Fumado às escondidas...

Deixa ficar a flor.

E nem murmures. Deixa
O tempo no degrau,
A morte na gaveta.

Conheces a gaveta:
A primeira da esquerda,
Que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
Pela janela fora?
Na batalha do ódio,
Destruam-se, fechados,
Sem tréguas, os retratos!

Deixa ficar a flor.

A flor? Não a conheces.
Bem sei. Nem eu. Ninguém.

Deixa ficar a flor.

Não digas nada. Ouve.
Não ouves o degrau?

Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...

Não digas nada. Ouve:
É com certeza alguém,
Alguém que traz a chave.


David Mourão Ferreira
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1 Comments:

Blogger MK said...

Lindo, este poema, que não conhecia..
Bjo,

1:52 da manhã  

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