19.11.04

Regressarei

Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas.

Sophia Mello Breyner


A sofreguidão... sim com ela fui ao fundo, perdi-me não por descuido mas porque a velocidade era demasiada e só agora o consigo reconhecer. O caminho começa a estreitar fica apenas um pequeno corredor, sem cruzamentos, sem saídas, inevitavelmente o embate acontece. . . Não sei usar o destino como justificativa, o que me rodeia não pode ser usado como desculpa, a fé não faz parte de mim. Fico a sós com a ilusão, afinal sou eu a minha única crença :

Nada garante que tu existas
Não acredito que tu existas

Só necessito que tu existas


David Mourão Ferreira



by Sato

O meu aliado, o instinto que me levou e continua a levar a pequenas ilhas iluminadas. Ao cair da negritude acalmo o medo com a certeza de um regresso e ao sonho de um dia “pertencer”.
Linhas rectas nunca foram muito o meu género por isso já contava com as curvas e desvios, esta montanha russa é que não esperava mas já aceitei. Nunca estive tão próxima de mim mesma e só isso importa, de resto... manter-me fiel ao indecifrável :

De resto, o que importa é n trair

“De resto, o que importa é n trair
A luz que nós buscamos e cintila
Em nosso ouvido num rumor longínquo,
Longe das fontes de angústia em que bebemos.

Não é a palavra amor que nos importa,
É o sorriso inacessível dentro
Da carapaça do ser que se defende,
O rio oculto sob o tempo e espaço.”


|