23.3.06




Sem Título e Bastante Breve

Tenho o olhar preso aos ângulos escuros da casa
tento descobrir um cruzar de linhas misteriosas, e
com elas quero construir um templo em forma de ilha
ou de mãos disponíveis para o amor....

na verdade, estou derrubado
sobre a mesa em fórmica suja duma taberna verde,
não sei onde
procuro as aves recolhidas na tontura da noite
embriagado entrelaço os dedos
possuo os insectos duros como unhas dilacerando
os rostos brancos das casas abandonadas, á beira mar...

dizem que ao possuir tudo isto
poderia Ter sido um homem feliz, que tem por defeito
interrogar-se acerca da melancolia das mãos....
...esta memória lamina incansável

um cigarro
outro cigarro vai certamente acalmar-me
....que sei eu sobre as tempestades do sangue?
E da água?
no fundo, só amo o lodo escondido das ilhas...

amanheço dolorosamente, escrevo aquilo que posso
estou imóvel, a luz atravessa-me como um sismo
hoje, vou correr à velocidade da minha solidão


Al Berto

"Todos os meus livros tiveram um carácter de urgência"(...)
(...)Só espero que meia dúzia de doidos me leiam agora e isso os toque".


Entrevista ao Expresso um mês antes de falecer, 1997.


Uma veZes adoro a sua escrita outras fico incomodada mas nos dias cinzentos é um conforto tê-lo perto. Devo de ser uma das doidas que o lê agora e não fica indiferente.
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