Pelas sintonias deixadas percebi que não sou a única a descobrir o trabalho
Nuno Júdice. Quando começei a ler
Poesia Reunida - 1967-2000 não consegui parar, gostei imenso, foi um prémio merecido. Para quem quiser descbrir um pouquinho da sua obra pode vir
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Dicionário
As palavras mais belas são as que nascem
do teu corpo: cabelos, lábios, ombros, seios,
até o ventre, e o que entre as coxas se esconde.
Escrevo-as devagar, como se lhes tocasse; e
cada uma delas é como um espelho, de onde
se libertam as tuas mãos, os dedos, um joelho,
olhos que beijo num murmúrio de segredos.
E pedes-me significados, símbolos, primeiros
e segundos sentidos. Não te sei dizer senão que
corpo é o teu corpo, centro um secreto umbigo,
pela a mais branca neve no horizonte desta
subida leve. Se me estendes os braços, entro
num abrigo de floresta; se me abres os ramos,
é na mais doce gruta que entramos.
Precipitam-se sinónimos, adjectivos sem
objectivo, pronomes enfáticos e possessivos,
sílabas perdidas na falésia do desejo. Mas
fecho o livro. Estou farto de palavras, é a ti
que eu quero. E faço-as voltar até de onde
nasceram: cabelos, lábios, ombros, seios, até
o ventre, e o que entre as coxas se esconde.
Nuno Júdice in O Estado dos Campos retirado do
ardente mente
by pedro gomes